Quais orientações devemos dar ao paciente com DNM que necessitam de transporte aéreo?
Em busca de consultas com especialistas e acertos diagnósticos ou turismo, é cada vez mais comum a necessidade de pacientes com doença neuromuscular utilizarem o transporte aéreo para o deslocamento em grandes distâncias. Mas dependendo da gravidade do caso surge a duvida: como fazer essa viagem com segurança?
É necessário informar ao paciente que diversos cuidados devem ser tomados para que não haja complicação dos sintomas respiratórios. Fatores como: stress prévio à viagem, exposição a um ambiente com temperaturas desconfortáveis, baixa umidade e acomodação em espaço pequeno da poltrona do avião são considerados como causadores de descompensação respiratória.
Outro fator importante é determinar se o paciente possui a hipoventilação crônica, caracterizada pela redução da capacidade respiratória e se está associada ou não à presença de escoliose. Durante o vôo, a redução da capacidade respiratória pode dificultar ainda mais a função de inspirar profundamente e expectorar secreções.
O número de complicações respiratórioas durante o voo é de 1 episódio a cada 14.000 passageiros. A pressão barométrica dentro do avião não é igual à do nível do mar. A pressão barométrica média nos voos comerciais é de 612 mmHg. Isso leva a uma redução da pressão arterial de oxigênio e também da Saturação de O2. Quando os aviões atingem sua altura de voo máxima, por volta de 13.000 metros ou 40.000 pés, a pressão atmosférica da cabine é equivalente a de 2.500 metros de altura. É como se, enquanto o avião ganha altitude, nós estivéssemos subindo as cordilheiras e a pressão de oxigênio fica semelhante ao que temos nessas alturas. Em passageiros saudáveis, uma viagem a 2.441 m, pode reduzir a saturação de O2 em 4,5%. Pacientes que já apresentam a saturação menor que 95%, podem não conseguir compensar essa diminuição e evoluirem com desconforto respiratório.
Outro problema é que os níveis de umidade relativa do ar são normalmente mantidos entre 12 e 22% (o normal é de pelo menos 40%!), valores que ressecam as vias aéreas ou aumentam a presença de secreção pulmonar. Além disso, os sistemas de ventilação de ar dos aviões são capazes de manter baixa as contagens de bactérias, fungos e virus mas, como se trata de um ambiente fechado, existe sempre o risco de transmissão de doenças (principalmente gripe, tuberculose, catapora e rubéola).
* Preparação da viagem
Alguns pacientes neuromusculares necessitam de formas terapêuticas mais complexas como traqueostomia, aspiradores de secreções, ambu ou alguma forma de ventilação mecânica durante o seu dia-a-dia. Apesar desses elementos não constituírem uma contraindicação para viagem em meio aéreo, é sempre importante que eles sejam levados na cabine, acompanhando o paciente, caso ele necessite durante o vôo, assim como seus medicamentos essenciais. Para que esse transporte e/ou a suplementação de oxigênio seja providenciada, é necessária uma solicitação médica e aviso à companhia aérea com pelo menos 48 horas de antecedência à partida.
Outras orientações importantes aos pacientes neuromusculares:
- Nebulizadores portáteis com bateria podem ser utilizados mas a companhia aérea deverá ser previamente avisada.
- A suplementação com oxigênio durante o voo é geralmente prescrita a 2 L/min. O mesmo aumento deve ser feito a doentes já com necessidade de O2 ao nível do mar. Deverá sempre ser considerado que a maioria das companhias não permite suplementação de oxigênio durante a subida e descida.
- A suplementação com oxigênio em doentes com redução da força muscular inspiratória (PImáx) geralmente não é eficiente em manter a oxigenação, nesse caso o paciente tem que usar o BIPAP regularmente durante o voo.
- Pacientes dependentes de ventilador devem informar a companhia aérea, sendo necessário, ao reservar a passagem aérea, acompanhar o relatório médico com o diagnóstico, necessidade de equipamento e parâmetros ventilatórios e gasometria arterial recente.
- Pacientes traqueostomizados devem ser monitorizados quanto à pressão do cuff, já que a baixa pressão atmosférica dentro das cabines provoca uma expansão dos gases de até 30% do seu volume. Todas as nossas cavidades ocas se expandem, por isso o cuff deve ser ligeiramente desinsuflado durante o voo, adequando a pressão na aterrizagem.
Independente da ocasião, é possível voar com segurança quando se tomam alguns cuidados! Se necessitar de mais informações, realizamos a avaliação respiratória e indicamos todas as orientações para que o vôo seja o mais seguro possível!